Quem sou eu

Minha foto
Mestre em História Política, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ - com a tese "A Cultura Política Colonial Seicentista Através da Revolta da Cachaça no Rio de Janeiro(1660-1661)". Bacharel em História pela UERJ. Docente em atividade desde 1998.

sábado, 22 de agosto de 2009

A CACHAÇA TEM HISTÓRIA!

A Cachaça é produzida no Brasil desde o século XVI, quando então era chamada aguardente-da-terra, por oposição à aguardente-do-Reino, a bagaceira, um destilado derivado da produção do vinho.

Inicialmente reservada aos escravos, com a difusão de seu consumo pelas camadas populares e seu emprego como moeda no tráfico negreiro, adquiriu tal importância econômica que começou a ameaçar os interesses metropolitanos, levando Portugal a proibir sua fabricação em solo colonial, em setembro de 1649.

Passando à fabricação clandestina, dispersa nos sertões pelos pequenos produtores de cana-de-açúcar, que oficialmente produziam rapadura, continuou a crescer de tal maneira que, no século XVIII, mais exatamente em 1756, a Cachaça passou a ser tributada como os outros gêneros, ainda que, inicialmente, em caráter provisório. Passou, desta forma, a contribuir, significativamente para a reconstrução de Lisboa, destruída pelo terremoto de 1755.

No início do século XIX, já era a bebida favorita em todo o território brasileiro, principalmente entre os pobres que, durante as lutas pela Independência, tomaram-na como símbolo da nacionalidade que se buscava construir. (Sabe-se que, entre os revoltosos, erguer um brinde com vinho ou outra bebida qualquer era considerado alinhamento com os interesses metropolitanos).

Fatos mais recentes, também servem de reforço à simbologia da Cachaça: durante a comemoração do quinto centenário da chegada dos portugueses à América, Fernando Henrique Cardoso fez uso dela, pura e gelada, para o brinde com o presidente de Portugal, Jorge Sampaio. Mas esta não foi a primeira vez que a Cachaça esteve presente, e em destaque, em evento oficial brasileiro: em 1975, Ernesto Geisel celebrou o encontro com o prefeito de Londres tendo em mãos uma saborosa caipirinha!

A REVOLTA DA CACHAÇA

A expressividade histórica da Cachaça é facilmente constatada no estudo do movimento de revolta, ocorrido no Rio de Janeiro entre novembro de 1660 e abril de 1661, e mais conhecido como Revolta da Cachaça.

Responsável pela deposição do governante da cidade e imposição de outro dirigente, mais comprometido com a causa colonial, o levante teve como uma de suas principais razões a indignação frente àquela proibição metropolitana da produção de aguardente. A indignação era grande uma vez que a bebida havia se transformado em importante alternativa ao cenário de crise do açúcar no século XVII, passando a conferir novo ânimo à economia colonial. Vale dizer que os líderes do movimento tinham todos vinculação com a produção da aguardente na colônia.

PLANOS PARA O FUTURO

Mas se a Cachaça teve força para incitar os ânimos fluminenses, séculos atrás, do que não será capaz na atualidade, não é mesmo?

Setores econômicos brasileiros buscam a promoção da bebida como símbolo, identidade nacional, sinônimo de brasilidade. Multinacionais conhecidas têm se interessado por esse segmento, identificando na Cachaça uma potencialidade enorme.

Por exemplo, a United Distillers (conhecida pela marca de whisky Johnnie Walker), sediada em Londres e com uma filial em São Paulo, passou a ser responsável pela distribuição mundial da tradicional Cachaça carioca, a Nêga Fulô.

Perguntado sobre a razão para a dedicação a uma bebida tão distante do scoth, o diretor de marketing respondeu: "Acreditamos que a cachaça, num prazo que não se pode ainda determinar, vai ganhar o mundo, como aconteceu com a tequila mexicana."

Bom, alguém tem alguma dúvida?


Bibliografia básica: ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas. São Paulo: Melhoramentos, 1976; BOXER, Charles R. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola (1602-1686). São Paulo: Edusp, 1973; CASCUDO, Luís da Câmara. Prelúdio da cachaça: etnografia, história e sociedade da aguardente no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1968; COARACY, Vivaldo. O Rio de Janeiro do século XVII. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944; D'ARAUJO, Mª Cecília e CASTRO, Celso. Ernesto Geisel. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1997; FREYRE, Gilberto. Açúcar. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1969; MOGETTI, Ana Paula da S. A aguardente-de-cana no Brasil do século XVII e a Provisão Régia de 13 de setembro de 1649. Monografia de graduação. Rio de Janeiro: UERJ, 1996; MOGETTI, Ana Paula da S. A cultura política colonial seiscentista através da Revolta da Cachaça (1660-1661). Tese de Mestrado. Rio de Janeiro: UERJ, 2001; PITTA, Sebastião da Rocha. História da América Portuguesa. São Paulo: Edusp, 1976; SALGADO, Graça. Fiscais e meirinhos: a administração no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985; SOUTO MAIOR, Mário. Cachaça. Brasília: Thesaurus, 1985.